quarta-feira, 23 de março de 2011

"Resistir", de Elsa Ligeiro

Hoje é Dia Mundial da Poesia 2011. Texto, a propósito, recebido (in “De Rerum Natura”) de Elsa Ligeiro, editora de poesia ("Alma Azul"):

A 21 de Março celebra-se o Dia Mundial da Poesia. A UNESCO, em 1999, para preservar a diversidade Linguística da Humanidade, decidiu criar um Dia que servisse para reflectir a identidade dos povos a partir da sua Língua.

Portugal já o faz há algumas décadas porque o dia da sua identidade multicultural, 10 de Junho, é também o do maior poeta de Língua Portuguesa: Luís Vaz de Camões. Por Portugal ser um país de Poetas? Sim, penso que este lugar-comum tem mais profundidade do que aparenta. Mas não pela versão popular que há em cada português um lírico.

A Poesia, ao contrário do que pensam muitos, não é um jeito especial para a rima. Há grandes poetas que não só rejeitam a rima, como insistem em fugir à sua música. Apenas porque o que procuram acima de qualquer toque de prazer, ou beleza, é a verdade sublime das coisas.

A procura da verdade, do saber, é o primado da poesia. Mas também ir ao fundo, mais fundo, da identidade humana e social. O que é ser humano. Qual o nosso limite para nos conhecermos e nos relacionarmos com os outros. Porque amamos e odiamos. Porque somos altruístas e vingativos. Porque nos transcendemos na paixão e nos suicidamos no desespero. Porque toleramos ditadores e fazemos revoluções. Sei que todas as ciências sociais têm uma, ou duas, destas preocupações humanas para resolver. A Poesia e a Filosofia têm-nas no seu conjunto. Mas enquanto a Filosofia procura o ontológico para pensar o mundo, a poesia ousa fazê-lo a partir de dentro (há quem goste do coração como metáfora). De dentro, e do mais profundo poço da razão, do amor e do ódio que é possível ao que é humano.

É por isso (e só por isso) que a poesia exige esforço e empenhamento de todos os sentidos. A quem a escreve e a quem a lê. Eduardo Lourenço lembra-nos que:

“a Poesia – quer dizer a longa trama dos poemas onde a humanidade a si mesma se construiu, a única Arca de Noé que sobrevive a todos os dilúvios – não é a nossa maneira de nos evadirmos do que somos, mas de nos apercebermos de quem verdadeiramente somos. É uma barca de palavras, mas tem o poder de transfigurar o que é opaco e não humano naquela realidade que tem um sol no meio e chamamos vida, a nossa vida, a nossa única vida”.

Se hoje, ao olharmos para um livro de poesia, fino, pequeno, reduzido ao essencial; este não tem a força de nos interpelar, é porque o poder nos vigia e ameaça. Com o peso das palavras que transformam a linguagem e a comunicação num palavreado demagógico com que esse poder insiste em confirmar a sua (pouca) importância. Não será este o momento certo para perguntar se não nos condenaram já à pena capital do medo? Como a seu tempo nos avisou, com a sua habitual lucidez, o poeta Alexandre O’Neill, no seu Poema pouco original do medo.

terça-feira, 22 de março de 2011

21 de Março - Dia da Poesia

Se toda a vida é um desafio

De Diogo Bernardes (1520-1605), no dia Mundial da Poesia

Se toda a vida é um desafio,

Se sobre nada tem seu fundamento,

Que descuido este meu? Qu'errado intento?

Que pretendo? Qu' espero? Em que me fio?

Oh vida humana, folha em seco estio

Levada pelo ar de qualquer vento!

Oh flor de primavera, num momento

Chamuscada do Sol, murcha de frio!

Quando cuido no tempo atrás passado,

O que passei m´espanta, o por vir temo,

No presente não sei que m´embaraça.

Mas, ainda que de ti tam alongado,

Ordena tu que torne, ó Pai supremo,

Este pródigo filho a tua Graça.

In Ferreira, M.E.T. & Paula, B.M. (1960). Textos literários: século XVI. Lisboa: Aster, 431-432.

Lê pequenos contos e narrativas em

http://cvc.instituto-camoes.pt/aprender-portugues/a-ler.html

Centro Virtual Camões

Consulta o site http://cvc.instituto-camoes.pt/index.php

Vocabulário Ortográfico do Português

Para saber mais ...

http://www.portaldalinguaportuguesa.org/